quinta-feira, 19 de maio de 2022


O chão do lar é outro.
O desejo de pisar naquela cerâmica fria é maior do que o ser.
Meus dedos doem. Dos pés, das mãos... Até o nariz arruma dedos pra doer.
Dentro do abrigo, meu refúgio, outras tretas surgem...
A louça, o pelo, o curativo, a comida, a ração, o rala... Um amontoado que desce a ladeira pra acordar de manhã com uma corrente de ar frio que vem do sul. Chegue, Yakecan!
Que caminho é esse, cheio de descaminhos, onde as trajetórias parecem se desfazer num sem rumo?!
Posso assim me desfazer num beco qualquer? Onde o sol me aqueça enquanto me liquefaço? Pode ser dentro de uma lataria qualquer, com uma pequena caixa de som e uma garrafa d'água? Se pá, um paiêro... Frio da porra! Meus dedos doem. Meu nariz arde. O frango tá no fogo, com pimenta-calabresa e açúcar mascavo. Depois posto o tutorial. Beijos de luz. Até amanhã!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Amor Gostoso (ou Um Romance de Café)

Vou te dar a receita de um café de primeira:
São dois copos d'água, cheios até o talo.
Quase transbordantes em sua abundância.
Deixe ferver, que o calor traz a vida.
Deite quatro colheres de açúcar,
Como quem adoça a cocada mais fina.
Acrescente duas colheres bem cheias de café
Porque café bom é café forte, com gosto.
Mexa tudo gostosinho, com muito prazer.
Enquanto ele coa, aprecie seu cheiro doce.
E só então, sirva a pessoa amada...
Pense num amor gostoso!


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Era uma noite vazia... Como diversas outras, vazia... Sem sal nem graça.
Juntando pequenos cacos, o vaso começa a se construir diante dos olhos.
Como se remontasse, as peças se agarram umas às outras, numa tentativa de encontrar seus encaixes.
Mais um sanduíche toca na campainha da lanchonete, onde um alarme de carro já toca a mais de 3 horas.
Um céu limpo, limpo de estrelas, de luz, de força, pálido, um laranja pálido, meio cobre, cor de poste meio derrubado. Observo do canto escuro sobre a quadra... Uma luz!
Inspiro... Expiro... e uma névoa densa se apresenta no vazio...
Aondeideiassemsentidoedesconexasseimendamsempausasemconexãoapenasseapresentandoloucamentedesenfreadamentenumpontoqualquerquasecomoumelétrondeumátomosozinhonovácuosemummundoaoredor...
Pausa... O ator já está fora do personagem.
Três tapas na cara, um grito e uma sacudida brusca da cabeça, como um amigo me ensinou... Sempre funciona! Não tem erro!
Segurem seus assentos, senhorxs e senhorxs! O caminho é longo e tortuoso, MAS TAMO INVADINDO COM A PORRA TODA!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ritmo. Ritmo que consome. Pulsante, em meio a curvas desvairadas. Ardente, já não tem mais costas pra isso. Obrigado, sentia o desejo do dever. De voo alçado, o pouso de uma reta infinita. Embriaga, mas não foge do meio. Esboçado, o sorri já não envaidece. Surgindo, em frente a estação. Aberto, corrompido, corroído, desvencilhado, em paz. Toca a campainha. É hora de entrar!
Não! Não é tristeza ou mal-estar.
Instado indefinido desconfortável...
Dos músculos à mente, tudo confuso.
Da perdição ainda lembro o real.
Mesmo que vago e vazio,
Ainda latente na mente.

É difícil de recompor ou remontar...
Mesmo assim, os efeitos ficam visíveis... Até demais...
Esperado entre as diversas vezes,
Sempre chega de forma inesperada.
Por sorte, acompanhado.


Um jovem autor qualquer, a muito tempo atrás...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

E se fosse o fim? Se desfeito, desferindo o último suspiro, saltado e rancoroso, pudesse se desfazer em pétalas que atravessariam os campos e tocariam as mais verdes planícies...
Se a agonia daquele tormento sem fim pudesse lhe ocorrer no último instante de ilusão e pudesse transferir cada micro-partícula daquela organização biológica, mental, psíquica, qualquer que fosse, em direção a um outro ponto, maior, com aprendizados infinitos.
Se pudesse se desprender de todas as preciosidades de seu ínfimo ser talvez, se aquilo que o rodeia não fosse tão querido, tão dependente, se pudesse ser livre por apenas um último instante, livre de todos os vínculos, laços, emoções, conexões... Se, por um último instante...














Enquanto o fim se aproxima, o sal de suas lágrimas se esfarela sobre o vidro. Um cartão desliza a superfície, como quem molda uma pilha de areia. E - numa tentativa de reabsorver toda sua tristeza e recolocá-la nas reservas de seu ser, para reutilizá-la mais tarde - aspira com ânsia aquele desfeito miraculoso. Refazendo-se, Eter(na)mente!