quinta-feira, 23 de abril de 2009

Correria

Corre, Marcondes! O Relógio já te apressa!
Olha as crianças e sua mulher. Banho de gato!
Engole qualquer coisa com café. Que pressa é essa?!
Sai de casa sem olhar pra trás. E começa o 2º ato!

Ó, se ao menos suas fezes pudessem se expressar...
Quilos e quilos de muita baboseira necessária!
Alguém ouviria seus peidos de revolta?
Talvez sim! Mas e o leite das crianças?
Limpa a bunda, Marcondes! Vamos! Ao trabalho!

Saúde: -15, Respeito: -25,7, Cérebro: -437,2.
No almoço, marmita. Carne, feijão e arroz.
"Você tem meia hora!" grita o chefe. Corre!
E com um bolo de nada, volta a fazer tudo!

E os pássaros, Marcondes? Você os vê?
Pode sentir o Sol tocar a sua pele? A chuva que molha a grama?
O Vento cortante, balançando o mundo?
Pode ouvir os Pássaros, Marcondes?

Toca a sineta! Bate o ponto e não olha pra trás.
Se segura no ônibus. Não sabe mais nem o nome.
Caminha duro, como um exemplo do seu trabalho.
E levanta a cabeça pra olhar sua casa... Como todo dia...

Seu olhar encontra chamas! O fogo consumia sua vida!
Assistiu as paredes e portas de pau caírem... brilhando...
Seu filho jaz dentro de casa. O armário queimava sobre ele.
Ouvia os gritos de sua mulher, como uma sinfonia.

Pobre Marcondes! Seus olhos se enchiam de lágrimas...
Aquela cena brilhava como um show de luzes!
Ele, que se vendeu por tudo aquilo.
Esquecera seu nome por tudo aquilo... que agora queima!

Sua mulher cai ao seus pés... Em desespero.
Seu canto lamurioso agora fazia mais sentido.
Ela não entendia sua alegria, Marcondes!
Agora estava livre! Sua casa, seus filhos, estavam livres!
Seu sorriso agora podia ser sincero. Finalmente, fazia sentido.
Um solo sombrio e aconchegante, a canção da mulher.
Seus pés se mexeram... e Marcondes nada fez.
Estava encantado por aquele brilho libertador...
Sentiu pisar aquele chão de chamas e cinzas.
Labaredas rodopiavam ao seu redos, como putas dançarinas.
Pague-as, Marcondes! Seja livre desse tormento.
Assim estaria livre! Assim também seria iluminado pelo fogo!

E, em meio a uma gargalhada, seu corpo foi consumido!


Do seu amigo, [Retículo][Emphádifo]

2 comentários:

Anônimo disse...

Marcondes: depravado, sociopata.

Rafael Cinza disse...

Cara, velho... Sua ideologia é cabulosa... Gosto da maneira como você vê as coisas.

Por alguns instantes eu senti realmente a rapidez da "Correria" de sua obra.

Legal como as coisas terminam: todo o 'sonho' de uma família jogado no lixo... Tão facilmente dissolvido...